B L A B B I N G

Se prepara pra sessão terapia! kk 

Lembro de quando eu entrava no youtube pra ver vídeos de diário de intercâmbio e me deparava com algum título do tipo "o lado ruim do intercâmbio" e coisas do tipo.. Eu descordo. Intercâmbio não tem lado ruim, mas sim dificuldades e obstáculos que você tem que enfrentar. Como teria que enfrentar no seu país de origem também, é só que aqui suas angústias e chateações são, na maioria das vezes, pela dificuldade de se relacionar, pela maneira como as pessoas agem e falam, saudades da maneira como sua casa e sua rotina no Brasil funcionavam, e por ai vai.. E muitas vezes você não tem alguém pra se jogar nos braços e pedir socorro, como você teria seus pais e família ou amigos de longa data se tivesse no seu cantinho brasileiro. Mas é tudo aprendizado.. 

Pra mim é difícil listar tudo que eu já mudei e aprendi aqui, porque é tudo na base da vivência. Desde que cheguei aqui me sinto diferente, meio mudada de alguma forma. Não a minha personalidade, mas a partir do momento que você se despede de tudo e todos e embarca sozinha pra viver a vida num outro país, você tem que ter em mente que estará começando quase que do zero: vai conquistar uma nova cidade, uma nova casa, uma nova família, uma nova escola, uma nova rotina recheada de pessoas com personalidades diferentes, atividades extracurriculares pra preencher seu tempo, meios de transporte as vezes não tão acessíveis ou as vezes acessíveis mas que vão te deixar biruta ou se perder porque ainda não tá familiarizada com seu endereço novo! Ah, e tudo isso em outra língua! Isso sim eu saberia listar, digo, tudo de novo que você encontrará pela frente e vai ter que aprender a domar e se virar com aquilo. Todos os dias tem uma conquista nova, por menor que ela seja. E você deve se sentir orgulhoso por a ter alcançado!

Todos os dias, conversando com meus amigos intercambistas, principalmente os brasileiros, tem uma reclamação que tem sido constante: muita coisa na bucket list pra pouco tempo. Quando você tá aqui, você vive numa countdown incessante a respeito de quantos dias ainda te restam pra fazer do seu sonho a melhor versão possível. Eu explico, vamos a um exemplo bem bobo: vocês sabem que ninguém faz melhores amigos em 2 semanas, certo? Certo. E isso é totalmente ok e esperado... menos quando você tá aqui. Por mais que sua cabeça te diga que é normal sua vida americana não estar mil maravilhas, super badalada e etc, na prática tudo que você pensa é "como eu não tenho amigos ainda, tem alguma coisa errada!!!!!!!!!" e depois disso surta. Acontece que se você não tem amigos aqui ainda, suas programações são limitadas aos passeios com host family ou as que você pode fazer sozinho pelas redondezas, fora a falta de conversas e piadas, de caronas kk e tudo mais. Então acaba pesando muito mais. E quanto mais tempo sem companhia, mais você pensa que seu tempo aqui tá passando e o tal dos x dias restantes pra fazer tudo que você quer. Parece que minha cabeça quer que meus dias sejam todos cheios de animação, passeios, melhores amigos, aventuras. Mas a verdade é que aqui você vai ter tudo isso, mas também terão dias de rotina. Terão momentos de tédio, momentos que seus desejos não vão bater com os da host family, momentos que você não vai querer lavar a louça, passar pano, limpar o quarto ou o banheiro.. por mais que você já soubesse que ia ter que fazer isso aqui, muito antes de ir numa agência comprar um programa de intercâmbio. E isso é normal, acontece! 

O fator extra é que nesses momentos que você sente saudade de casa, da família e dos amigos. Minha maior saudade no momento, por exemplo, é do esquema de parceria que eu tenho na minha casa, entre eu, meus pais e meu irmão. Tenho algumas regras na minha casa daqui que não entendo a necessidade, ou as vezes não entendo como eles agem, dividem as tarefas ou os motivos das discussões. E eu não preciso entender.. Sabe por que? Tudo faz parte de uma cultura diferente, de gente que pensa diferente, de uma outra maneira como a sociedade e a casa está organizada. 

Querem exemplos? Aqui tenho um horário sugerido pra abrir a janela do quarto, isso porque se abrir durante a parte mais quente do dia, a casa toda fica um forno, então deixamos pra abrir na parte da noite quando esfria um pouco, esfriando consequentemente a casa pro outro dia. Quer outro? Minha casa tem todo um esquema de reciclagem, tudo eles reciclam! Eu acho muito legal, mas pra mim é o maior incomodo não poder jogar o rolo de papel higiênico junto com o lixo do banheiro, porque o rolo é feito de "papelão" e por isso vai ser jogado em outro lixo! Precisa de outro? Nas tarefas da casa, ninguém vai te ajudar a catar aquele um pedacinho de papel que você deixou passar sem aspirar, eles vão te chamar pra você voltar lá e pegar, entende? Apesar de eu estranhar essas coisas bobas que me fazem querer minha vidinha brasileira de vez em quando, estou aprendendo a olhar o lado bom das coisas e tudo que eu estranho guardar como aprendizado.. Afinal, eu quis vir pra ver o mundo com outros olhos não é? Viver uma rotina baseada em outras tradições, costumes, hábitos e é o que tá acontecendo, só que na prática é mais difícil de lidar! Eu tô dando meu jeito. Apesar disso, estou muito feliz aqui e não posso agradecer a Deus o bastante por tudo que Ele tem me proporcionado e todas as bênçãos derramadas sobre mim :)

Enfim.. Eu falei e falei, sendo basicamente coisas que me incomodam no momento, então foi mais pra desabafar.. MAS, apesar de estar aprendendo como lidar com a homesick e com as diferenças culturais durante a adaptação, tenho algumas inspirações que me fazem ficar mais animadinha e não deixar que pequenas coisas me abatam e entristeçam. Quando encontrar a fórmula perfeita pra administrar tudo, eu conto pra vocês, ok? Hoje queria mostrar um texto escrito por uma amiga que estudou comigo e eu me identifiquei demais! A Luisa Paulino escreveu esse texto pra revista de filosofia da PUC-Rio e é genial! Me despeço hoje com ele, bjssss e tô bem! kkk

Digam-me: quando o passado se tornou tão condenado, o presente superficial e o futuro tão importante? Arrependemo-nos do que éramos no passado, e ao invés de refletirmos para crescermos como pessoas, ignoramos o que fomos para não ter de pensar em como a vida realmente é, e sim como gostaríamos que esta fosse. Sofremos no presente e optamos por acusar o destino pelos nossos problemas e esperamos que as circunstâncias da vida se tornem adequadas a modo de os solucionarem, ou simplesmente aceitamos os problemas e convivemos com estes.
O futuro, por outro lado, nos parece maravilhoso: é quando nos imporemos diante das coisas que nos machucam e todas as soluções virão à tona. Não haverá preocupações nem problemas novos surgirão. O futuro é o tempo utópico. Em suma, precisamos entender o passado para agir no presente para chegar o mais próximo possível do futuro utópico. Se é tão simples assim, o que nos faz tão aflitos em nossos pensamentos e tão desleixados em nossas ações?
Para responder à esta pergunta, devemos pensar primeiro em porque devemos nos esforçar para mudar; batalhar por uma vida melhor; por que, afinal de contas, viver?! Quais são os nossos objetivos? Como podemos encontrar a felicidade? Estas são questões sem respostas: ninguém pode respondê-las senão nós mesmos, pois apesar de eu ser jovem e pouco saber da vida, esta me obrigou a entender que sou a protagonista de minha história.
Claro que a boa vontade por si só não garante a constante felicidade – há pessoas, momentos e acontecimentos que nos põem para baixo. Cabe a nós, porém, decidir o quanto esses obstáculos significarão em nossa forma de ver o mundo: uma pessoa pode ser feliz nas mesmas condições de vida de um ser triste e melancólico. Apesar de tudo, o sofrimento é natural e digno, parte fundamental que nos compõe – é a razão da ética e autocrítica, da culpa e da motivação para se tornar uma pessoa melhor. Aquele que não sofre não é humano.
Termino meu texto com samba: “Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima!”.