sexta-feira, 28 de março de 2014

O curioso desfecho do meu intercâmbio

PASMEM!
Olha quem voltou!!!!!! Eu não poderia estar mais feliz por finalmente ter a oportunidade, coragem e disposição de escrever de novo no meu xodózinho que é o Mari pela Califórnia! Demorou mas eu voltei!

Antes de começar a contar a minha longa história, quero deixar bem claro que esse não é o fim do blog. Pelo contrário, ainda tenho mil coisas e eventos e fotos pra mostrar, então ainda não é hora de me abandonar.

Depois que voltei para o Brasil, eu ainda postei aqui (sobre LA, etc..), mas só não admiti ter voltado, muito menos mencionei como me despedi do meu intercâmbio ou menos ainda como era difícil digitar logo que voltei.. Mas agora vou contar tudinho, pois apesar de ter sido uma barra, nunca quero esquecer o que, em especial, essa experiência final me ensinou.

❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀

Morgan Hill, 19 de dezembro de 2013

Dia 19 foi meu último dia de aulas na Live Oak High School! Eu o imaginava bem diferente de como realmente foi, porque na verdade o meu último dia foi de provas e não de bagunça e várzea das aulas, como eram todos os dias. Minha sorte foi que por eu ter aula de Yearbook no último período, consegui curtir bastante com alguns dos meus amigos. Na verdade, a maior parte do tempo eu fiquei correndo atrás dos meus documentos (uma aventura digna de ser recontada depois). Mas, quando pude finalmente me acalmar e parar pra pensar, as lágrimas vieram e junto com elas um desespero, uma nostalgia precoce e os abraços tranquilizantes dos meus classmates e da minha professora mais querida!

Kirkwood, 20 de dezembro de 2013

Saímos bem cedo de casa, eu, meu host dad, minha irmã americana Danelle e minha irmã suíça Geri, e pegamos a estrada que nos levaria até a neve. Foi a minha primeira vez na neve, primeira vez que vi, primeira vez que toquei e claro, primeira vez que esquiei. O percurso demoraria em torno de 4 horas, o que não é um problema para os americanos.. As viagens de bate e volta são extremamente comuns e aceitáveis. Era o que iríamos fazer: sair de casa bem cedo, e pegar a estrada novamente no fim da tarde de volta para casa.

Durante o percurso, que por sinal foi bem tranquilo e agradável, fizemos paradas pra comer e usar os banheiros mais aleatórios de restaurantes de beira da estrada. E quando começamos a subir a serra, comecei a ver a neve no chão. Foi uma das maiores emoções da minha vida, meus olhinhos brilhavam e eu não conseguia conter a minha animação. E eles aproveitaram para fazer graça comigo, filmar meus gritinhos e me ensinar tudo sobre a neve e a estação da qual nos aproximávamos. O sol que refletia na neve branca ainda misturada com o verde das árvores deixava tudo mais mágico. Era de fato uma manhã linda!

Passado todo o sentimentalismo, chegamos na estação. Antes de saltarmos do carro e de eu ter a oportunidade de tocar a neve pela primeira vez, colocamos todas as camadas extras de casacos + luvas, gorros, meias e as chatas botas de esqui. Toquei na neve e foi mágico, delicioso. O passo seguinte foi fazer nosso registro e pegar as carteirinhas. Feito isso, fomos alugar uma prancha de snowboard para a Geri. Isso é relevante para história: a Geri por ser da Suíça e ver neve sempre por lá, ao invés de esquiar como minha família americana, prefere o snowboard e por isso tivemos que alugar o equipamento para ela lá na estação.

Agora estávamos prontos e assim, fomos para as decidas. Meu host dad começou a me ensinar a como caminhar com o esqui e como subir e descer do lift. Pegamos carona no teleférico e tive a maior dificuldade pra saltar, mas tudo bem.. Deu certo porque estava de mãozinha dada com meu host dad!! Obvio que começamos pela descida "bunny", para crianças e amadores. Peguei o jeito bem rápido, ele me ensinou a frear logo de cara e trabalhou comigo na coragem pra só ir na fé na descida! Enquanto ele me ensinava, Danelle e Geri foram nas descidas de nível mais avançado e de vez enquanto passavam pra ver como eu estava indo.. Vocês podem não acreditar, mas eu estava indo muito bem mesmo (tem vídeo!!!!!)! Logo aprendi a fazer curvas e a deslizar com a lateral do esqui (termos técnicos não é comigo).

Fizemos uma pausa para o almoço no lodge, digo, na área do restaurante, banheiros, mesinhas, gift shop. Claro que como bons Schweglers levamos nossos próprios sanduíches kk. Eu tava amando! Logo depois do almoço, fomos tirar algumas fotos e eu fui lá pra cima do morro, descida, tanto faz, fazer um anjinho na neve! Foi o máximo! Depois ainda desci com as minhas irmãs, todas juntas, e filmando ao mesmo tempo.. Tão incrível! Eu tava apaixonada!

Em um dado momento, meu pai me convenceu a ir numa descida mais difícil. Mas, quando você chegava lá em cima, podia tanto ir para a direita quanto para a esquerda. Fomos para a esquerda e nos ferramos. O percurso era cheio de curvas e pedras, já que não havia nevado muito, então tinha pouca neve fofa no chão. Resultado: meu pai teve que me colocar no meio das pernas dele e me guiar com o ski dele. Digo, eu tava em pé, mas me segurei nele e foi ele que controlou a descida até chegarmos no fim da montanha.. Conto isso com calma agora, mas foi desesperador.

Mais uma pausa, mais alguns treinos nas pistas mais fáceis, mais algumas fotos e minha irmã começou a ficar com frio. Tranquilo.. Em uma hora as pistas iam fechar mesmo.. Decidimos então (eu, Geri e Pai Bruce) que íamos descer mais umas duas vezes e nos encontraríamos no carro para irmos embora. Foi nessa hora que meu pai sugeriu irmos naquela pista de antes, mas virar para a direita dessa vez, num percurso que era menos inclinado, menos rochoso e com a pista mais ampla. Relutante, concordei.

A pista começava bem íngreme, mas logo depois ficava tranquila, ou seja, ela se tornava fácil, se assemelhando à descida na qual eu tinha praticado o dia todo, então eu estava acostumada. O curioso foi que a parte difícil eu fiz com meu pai e conseguimos direitinho! Orgulhoso, ele disse "agora você esquia como sabe fazer". E eu sei que eu conseguiria descer ali, por isso peguei um baita impulso e fui!

Plaft.

Cai. Minha teoria é que a minha queda foi por conta da minha velocidade. Como eu me empolguei, peguei muito impulso e não consegui diminuir a velocidade para fazer a curva, já que no esqui para frear você deve abrir seus calcanhares (em formato de V) e concluo que não tive força no pé pra me sustentar e conseguir parar. Antes de cair, lembro que fui gritando "ahhhh oh my God", mas eu jamais previ que ia cair feio. Afinal, eu já tinha caido algumas vezes naquele dia. Só que dessa vez foi pior.

Cai e comecei a sentir meu braço muito, muito estranho. Era como se ele não obedecesse meus comandos a não ser que eu me concentrasse bastante. E tava doendo muito. A Geri veio logo atrás de mim no snowboard depois que viu que eu não levantei, muito menos dei risada. Comecei a falar "there is something wrong with my arm" repetidamente e ela tentava me acalmar. Meu pai logo veio e começou a me questionar sobre dores e o que estava sentindo. Eu não conseguia levantar, então fiquei ali de bunda na neve mesmo. A Geri depois sentou na neve e me deixou encostar o corpo no dela, o que foi tão gentil da parte dela. Ela tentava me acalmar enquanto meu pai pensava em soluções. Ainda faltava bastante para chegar ao fim da montanha e eu deixei bem claro que eu não iria conseguir descer nem com a ajuda dele, mesmo ele insistindo que me apoiaria e que iríamos devagar.

A solução foi chamar a patrulha do esqui, mas para isso meu pai teve que descer tudo e chamá-los. Depois de uns 4 minutos que eu e a Geri ficamos sozinhas lá em cima, um moço extremamente brincalhão e simpático chegou pra me ajudar, ele era um dos da emergência. Em seguida, meu pai chegou com um outro moço, que trouxe consigo o trenó que me levaria até lá embaixo. Eles fizeram uma tipóia e me colocaram com muita delicadeza e técnica no trenó. Até ofereceram pra tirar uma foto, mas naquela hora eu só não conseguia pensar em nada. Ah, e eu não chorei. Acho que fiquei tão em choque que a dor me anestesiou, ou o frio. Chegando lá embaixo me colocaram numa ambulânciazinha da estação e me levaram para a sala de curativos. Não tinha nenhum médico ortopedista para me examinar (prefiro não comentar...........) e então, eles tiraram meus casacos e fizeram uma tipóia bastante reforçada. Encontrei com todos da minha família lá, inclusive a Danelle, e estávamos todos muito assustados e não entendendo o que aconteceria dali pra frente.

Ps: meu pai me deu um abraço tão lindo dizendo que não ia me abandonar e ia ficar tudo bem.

Com a dor que eu estava sentindo não iria aguentar pegar a estrada por quatro horas até chegar no hospital de Morgan Hill. Então, fomos para um mais próximo, demoramos uns 40 minutos pra chegar lá e eu acabei adormecendo no carro (de dor acredito), o que foi bom, já que eu não me deixei sofrer tanto.

Chegando na emergência, demoraram muito para me atender. Passei primeiro por uma sala para diagnosticarem o que eu tinha. A enfermeira me fez muitas perguntas e depois, sem delicadeza alguma, pegou a tesoura e cortou as mangas das últimas três camadas de roupa que me restavam. O objetivo era ver se tinha algum tipo de corte ou roxo, mas pra quê ser gentil quando se pode só pegar uma tesoura e ir com tudo em cima do meu braço estroçado?

A médica chefe, que conseguia ser mais arrogante ainda, chegou lá e só de olhar pra mim já disse que se eu estava sentindo tanta dor como eu manifestava, o meu caso era cirúrgico (isso em tom irônico claro). Fui para o raio-x e como se já não tivesse sido o bastante, a moça queria que eu fizesse contorcionismo com meu braço pra que ela conseguisse a posição ideal. Quando eu disse que não conseguia fazer o movimento que ela pediu, ela disse "então sinto muito, procure outro hospital porque nesse ninguém vai poder te ajudar". Fácil. Começei a chorar e pedi que pelo menos começassemos pelo úmero (osso que articula com a escápula - depois do ombro), já que as suspeitas era que eu poderia ter fraturado o úmero ou o cotovelo.

Quando ela tirou o raio-x, meu pai viu os resultados com ela e a expressão no rosto dele foi de terror. It was pretty bad. Eu perguntei como estava e ela disse que não precisaríamos fazer o raio x do cotovelo (naquela posição impossível), pois a fratura que ela via deixava bem claro onde estava o problema.

Saindo da sala de raio-x, a médica começou a falar como eu tinha que operar com urgência e era óbvio para mim e para a meu hdad e minhas irmãs que eu não iria operar naquele momento, muito menos ali sem avisar a ninguém e sob cuidados daquela equipe médica. Enrolaram meu braço em tala e me colocaram numa tipóia de lona. Foi assim que eu voltei pra casa. Devo admitir que eu me sentia bem, conseguimos parar pra comer no drive thru do McDonalds e eu estava sob efeito de um medicamento a base de morfina que me deram lá. Era bem forte, mas o único jeito.

Voltamos pra casa e logo que cheguei, minha host mom me recebeu aliviada e assustada. Como já era tarde, me ajudaram a ir pra cama. E ali, desconfortavelmente, eu dormi.

❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀❀

Como decidi contar com mais detalhes, até para que eu não esqueça desse episódio, vou dividir o post em dois. Então leia a continuação aqui.

Mil beijos,
Mari


Nenhum comentário:

Postar um comentário